No final de 2015, despontou na indústria das bebidas alcoólicas um nome inesperado: Bob Dylan.
No nome do canto, acabava de ser apresentado um pedido de patente para um produto chamado “Bootleg whiskey” (uísque de contrabando). Mark Bushala, 52, foi uma das pessoas que notaram o fato, principalmente por ser desde sempre fã do cantor e um empreendedor do setor de bebidas alcoólicas.
Sua marca de Bourbon, Angel’s Envy, havia sido vendida pouco tempo antes por 150 milhões de dólares.
Bushala contou que imediatamente passou “semanas obcecado, tentando descobrir o conceito que poderia existir por trás de um uísque com o nome de Dylan”.
Depois de ouvir os representantes de Dylan, Bushala conversou com o cantor por telefone, e propôs uma sociedade em um portfólio de uísques em pequenos lotes. Na sua opinião, havia apenas um pequeno problema. O termo “ contrabando”, embora uma evidente brincadeira de Dylan, não era um nome muito apropriado para um produto de qualidade. Estaria Dylan, ganhador de um Prêmio Nobel, aberto à busca de outro nome?
“Eu estava um pouco assustado ”, explicou Bushala referindo-se ao tom da piada.
Mas a coisa funcionou. Atualmente, ele e Dylan estão lançando Heaven’s Door, uma coleção de três uísques – de centeio, Bourbon e double-barreled (envelhecido em mais de um barril). Com ela, Dylan ingressa no mercado florescente de bebidas alcoólicas com a marca de celebridades.
Dylan não está apenas licenciando o seu nome. É um sócio pleno do negócio Heaven’s Door Spirits, que segundo Bushala informou, captou 35 milhões de dólares junto a investidores.
“Nós quisemos criar uma coleção de uísques americanos que contassem uma história à sua maneira”, disse Dylan em um documento.
“Viajo há dezenas de anos, e tive a oportunidade de experimentar algumas das melhores bebidas que o mundo dos uísques pode oferecer. Este é um grande uísque”.
A comercialização do uísque de celebridades tende a corresponder, na visão dos consumidores, ao estilo de vida dos seus patrocinadores. A tequila Casamigos de George Clooney, por exemplo – vendida no ano passado à gigante das bebidas alcoólicas Diageo por mais de 1 bilhão de dólares – permitiria adquirir algo do glamour do astro do cinema.
“Tem a ver com poeira de estrelas”, disse Michael Stone, o “chairman” da agência de licenciamento de marcas Beanstalk. “As pessoas anseiam que o estilo de vida das celebridades espalhe sobre elas um pouco da poeira de estrelas”.
O Heaven’s Door deveria evocar a ideia fundamental de que Dylan é em parte um homem da Renascença. e em parte uma ave noturna. O design do rótulo deriva de suas esculturas, inspiradas na iconografia rural – silhuetas de corvos, rodas de carroças.
“Dylan tem qualidades que de fato casam muito bem como um uísque”, disse Bushala. “Ele tem uma enorme autenticidade. É o americano por excelência. Faz as coisas como ele quer que sejam feitas”.
O cantor ingressa no mercado do uísque artesanal no momento em que este ramo está no auge. Graças ao atual desvario pelos coquetéis clássicos, as vendas de uísque americano cresceram 52% nos últimos cinco anos, para 3,4 bilhões de dólares em 2017, segundo dados do Distilled Spirtits Council.
Para preservar o nome original do uísque de Dylan, a companhia emitirá uma Bootleg Series (Uísque Contrabandeado) em edições limitadas. O primeiro, um uísque de 25 anos, será lançado no ano que vem e custará cerca de 300 dólares. (O preço da linha normal do Heaven’s Door irá de 50 a 80 dólares.)