“Brasil precisa se unir para acelerar a inovação”

Universidades, empresas, sociedade e governo precisam montar um plano para acelerar os avanços tecnológicos, diz o presidente da Anprotec.

Brasil avançou muito na inovação nos últimos 20 anos: ganhou parques tecnológicos (UFRJ, Tecnopuc, Sapiens, BH-Tec, Sapiens Parque) criou polos de desenvolvimento tecnológico (Cietec e Porto Digital) e viu surgir cidades inovadoras (Florianópolis e São Paulo). “Esses são apenas alguns dos exemplos. É um excelente resultado, mas não reflete o potencial que o Brasil pode obter em inovação”, diz Jorge Luis Nicolas Audy, presidente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores, a Anprotec.

Audy acredita que o Brasil faz inovação do jeito certo, mas de forma lenta. Para acelerar o ecossistema, precisa de apenas uma coisa: união. “Todo mundo fica falando de copiar o modelo do Vale do Silício, de Israel, da China para decolar. Nada disso. Governo, sociedade, empresas e universidades precisam se organizar, criar metas e colocá-las em prática. A inovação tecnológica será consequência”, diz.

No cargo de presidente da entidade até 31 dezembro, Audy conversou com Pequenas Empresas & Grandes Negócios, durante a Conferência Anprotec 2017, no Rio de Janeiro, nesta terça-feira (25/10). Confira a seguir os melhores trechos da entrevista:

O que falta para o país fortalecer o ecossistema inovador?
O país é inovador. O que precisa é ser mais rápido. A gente sabe fazer parque tecnológico, aceleradora, startup, pesquisa de base, avião, software… em todos os cantos do país tem alguma coisa legal acontecendo. A questão é: se sabemos fazer, porque não replicamos rapidamente para todas as regiões brasileiras? Só vamos conseguir isso e ser uma nação inovadora com a união de universidade, sociedade, governo e empresa. E todos seguindo um único objetivo: a inovação. Sendo prático, deve haver uma visão de futuro em conjunto.

E como fazer isso num país que passa por uma grande crise econômica e reduz  investimentos em setores importantes, como edução e ciência e tecnologia? Além disso, vivemos uma divisão política grave…
É claro que temos, em todos os setores, pessoas que ainda estão na realidade pré-industrial do século 19. Só que a gente precisa ir para o século 21. E eles vão precisar vir junto. Neste caso, para evitar brigas e unir todo mundo, só com um planejamento que mostre um norte e  forme líderanças capazes de nos guiar. Sobre sua questão: se a gente não juntar, o país continua sendo o Brasil da promessa, o país do futuro, e por gerações. Israel, Canadá, Estados Unidos, Finlândia e muitos países europeus deixaram diferenças de lado para criar um país forte em inovação e forte no empreendedorismo – com sistemas que reduzem burocracias e auxiliam na criação de empresas. Até a China, que tem um regime político controverso, tem seu plano de inovação em que todos os atores do país se unem por ele.

A crise política atrapalha o nosso desenvolvimento em inovação?
O momento atual da sociedade brasileira é de complexidade. Há uma instabilidade no governo que se reflete nas politicas públicas, inclusive nas de desenvolvimento tecnológico. A turbulência politica afeta, sim, o ecossistema inetiro. Mas o processo de inovação não foi interrompido: estamos vendo um ecossistema incrível de startups no país, fora as ações de corporate venture que surgem dia a dia. O que quero dizer: mesmo que o governo esteja ausente, as empresas, a sociedade e a universidade têm feito seu papel. O governo vive uma transição e vai sair da crise. Quando isso acontecer, será o momento de se unir e construir uma visão de futuro para todo o Brasil.

Você passou uma temporada na China e pesquisando os parques tecnológicos de lá. O que podemos aprender com os chineses?
A fazer um bom planejamento. Eles desenharam um plano para serem uma potencial mundial – e para ser uma potência, entenderam que é vital ter muita inovação e empreendedor criando coisas novas. Então, eles investem em parques tecnológicos que apostam em startups, fora o apoio em pesquisa de base que rende tecnologias nas mais diversas áreas estratégicas [espacial e computação são algumas delas]. O Tuspark, em Pequim, abriga mais de 6,5 mil empresas. Eles, em algumas décadas, ganharão a posição de líder mundial dos Estados Unidos.

Fonte: Época Negócios