Burocracia trava o setor de TI

Demora no registro de patentes, falta de financiamento e ineficiência do sistema jurídico estão entre os problemas enfrentados por empresas de tecnologia da informação. Temas estão na pauta de Congresso Mundial que acontece em Brasília

» RODOLFO COSTA

A burocracia é um dos maiores obstáculos ao avanço do setor de tecnologia da informação (TI) no Brasil. Apesar de ter registrado taxa média nominal de crescimento de 10% ao ano entre 2009 a 2014, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), dificuldades para a abertura e o fechamento de empresas, bem como registro de patentes, são alguns dos problemas que afetam o mercado de tecnologia e levam brasileiros a empreenderem fora do país. Os entraves do setor estão sendo debatidos no 20º Congresso Mundial de Tecnologia da Informação (WCIT). O evento, que ocorre em Brasília, é o primeiro a ser realizado na América do Sul.

O empresário Brunno Attorre, 26 anos,sócio do Uru, solução inteligente para publicidade não-intrusiva em vídeos online,abriu a companhia este ano nos Estados Unidos,após a conclusão de mestrado em Nova York.”O único motivo de ter ido para fora do Brasil é que lá tenho um ambiente mais confortável para tomar desafios do que aqui”, afirmou.
Em nove meses de desenvolvimento, a startup, que mapeia áreas de vídeos nas quais propagandas pode ser posicionadas sem incomodar o espectador, arrecadou US$ 100 mil e fechou um investimento de US$700 mil para o fim de 2016. Ele diz que isso não seria possível no Brasil em tão curto espaço de tempo. “O que impede o país de manter o capital inteligente são a burocracia e as taxações. Por aqui, é muito difícil conseguir investimentos de terceiros. Nos EUA, há muitos investidores dispostos a proporcionar o serviço”, afirmou.
O presidente do Zumpy, André Andrade,39, não desistiu de empreender no Brasil. O aplicativo gerenciado por ele funciona como uma rede social que organiza caronas solidárias,conciliando rotas de motoristas e de pessoas que precisam de transporte. Andrade reconhece, no entanto, a dificuldade de tocar a empresa. “Aqui há muita relutância dos investidores a assumirem riscos. Eles se mostram mais propensos a investirem negócios consolidados, com alto faturamento. O Zumpy foi feito até hoje com recursos próprios”, destacou.
A ineficiência e insegurança gerada pelos sistemas jurídico e administrativo do país também estão entre as principais preocupações do setor de TI. Na avaliação do presidente da Federação das Associações Brasileiras de Empresas de Tecnologia da Informação (Assespro), Jeovani Salomão, são urgentes mudanças nas legislações trabalhista, tributária e de investimento para que os empreendimentos em inovação e tecnologia possam ser bem sucedidos

Propostas “Temos uma estrutura de investimentos incompatível com o modelo de negócios. Um investidor que coloca dinheiro em uma empresa e sequer participa da gestão pode ter o patrimônio pessoal atingido em uma eventual ação trabalhista feita contra a companhia. Não faz sentido isso”, disse. Somente nos últimos seis meses, a Assespro recebeu propostas de oito países oferecendo condições para instalação de empresa brasileiras, conta Salomão. “Nações como Portugal e Canadá estão vendo que geramos emprego e riqueza, mas as condições de TI aqui são ruins”, destacou.
Para o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), Sérgio Paulo Galindo, é preciso que os governos deem prioridade ao setor. “Hoje, há situações em que empresas levam até um ano para serem abertas”, enfatizou. Outra preocupação é a ineficiência com o registro de patentes, que, segundo Galindo, pode demorar até 11 anos. “Nos Estados Unidos, isso leva 90 dias, e já tem sido alvo de críticas. São aspectos como esse que mostram a morosidade das ações de tutela do Estado”, comentou