Direitos autorais: só 10 mulheres entre os artistas que mais arrecadam

Os direitos autorais na música ainda refletem um grande desequilíbrio de gênero no Brasil. Mulheres precisam ralar muito mais para conseguir arrecadar e mais ainda para aparecer entre os artistas mais bem remunerados e que invadir o domínio dos homens neste mercado competitivo e agressivo.

Entre os 100 maiores arrecadadores de direitos autorais no país, apenas 10 são mulheres. E, em 2019, as mulheres receberam somente 9% do total distribuído em direitos autorais.

Estes são alguns dados da terceira edição do estudo “Por Elas Que Fazem a Música”, desenvolvido pela União Brasileira de Compositores (UBC). O relatório revela um verdadeiro mapeamento do papel e, fundamentalmente, representatividade feminina na música brasileira. A pesquisa está disponível no site da UBC –  http://bit.do/PorElasQueFazemAMusica.

Com mais de 33 mil associados, dos quais apenas 15% são mulheres, a associação comprova através da pesquisa que, apesar crescimento da participação da mulher, ainda há um longo caminho rumo equilíbrio de gênero no mercado fonográfico. Estes desafios serão debatidos em evento na sede da entidade, entre os dias 2 e 5 de março.

A partir da observação e do registro de eventuais mudanças ao longo dos anos, a pesquisa apresenta dados que comprovam a atual desigualdade de distribuição entre homens e mulheres no cenário fonográfico do país, apesar do crescimento proporcionalmente maior de mulheres associadas à UBC. Em 2019, o número de novas associadas cresceu 56% em relação ao último ano. Já os novos associados, no geral, cresceram 34% em relação ao último ano.

No entanto, tal disparidade foi suficiente para aumentar em apenas 1 ponto percentual a representatividade de mulheres no quadro geral da entidade, atingindo 15%, contra 14 em 2018.

A pesquisa aponta também que, entre as quase 5 mil associadas, a maior concentração está no sudeste, com 64%, enquanto a região norte reúne apenas 2%.

Entidade responsável distribuição de quase 60% dos direitos autorais de execução pública musical no país, a UBC revela através do relatório que, em 2019, a disparidade dos valores totais distribuídos também foi grande, sendo 9% para as mulheres e 91% para os homens.

Por outro lado, em relação a 2018, no último ano a participação feminina na quantidade de obras e fonogramas cadastrados cresceu notadamente em 4 categorias. Sendo 11% a mais no número de autoras, 9% como intérpretes, 11% de músicos executantes e 15% de produtoras fonográficas.

Marcelo Castello Branco, diretor executivo da UBC, chama a atenção para a o debate e urgência de uma participação maior das mulheres na indústria. “Promover e ser um dos agentes ativos de uma maior e mais equilibrada participação feminina na música é uma das prioridades da UBC.

Perceber a evolução contínua deste quadro nos provoca ainda mais responsabilidade e motivação para trabalhar esta inclusão em todas nossas frentes e ações. Este relatório é um mapa perfeito da sensibilidade desta questão e do muito ainda a ser feito para precipitar avanços inadiáveis”, afirma.

Um dado que demonstra a persistência do estereótipo da figura feminina na posição de diva de autores homens é a origem dos rendimentos.

Enquanto 14% das receitas masculinas são oriundas de interpretação de canções, para as mulheres este trabalho gera 27% de suas arrecadações. Homens têm 76% de receitas provenientes de suas autorias, já o total arrecadado pelas mulheres tem 66% oriundos de composições.

Apesar do boom das plataformas de streaming, os tradicionais meios do rádio e TV aberta seguem sendo as maiores fontes de distribuição de direitos autorais para as mulheres, representando 25% e 20%, respectivamente.

Neste ponto, salta aos olhos outra disparidade: comparada aos homens, a TV aberta foi a rubrica com a menor participação feminina (7% para mulheres contra 93% para os homens). Apesar disso, a TV permaneceu como maior fonte de rendimentos dentre o total arrecadado pelas mulheres.

Fonte UOL | Clipping LDSOFT