Galeria de arte leiloa obras em NFT baseadas nos incêndios ocorridos no Pantanal

Brazilian’s NFTs, a primeira galeria de arte do Brasil focada na tecnologia dos tokens não fungíveis, acaba de lançar a exposição “Pantanal”, elaborada pela artista plástica Isabê. A coleção de pinturas representa o sofrimento do bioma brasileiro, que teve grande parte de sua biodiversidade devastada pelas intensas queimadas em 2020. Diante desse cenário, a galeria vai destinar 20% do valor arrecadado com o leilão das obras de arte para a ONG SOS Pantanal, a fim de contribuir com medidas de prevenção de incêndios e preservação.

A coleção é composta por três quadros: “Te Vejo”, “Te Sinto” e “Te Cheiro”, que estão à venda por R$ 8 mil cada. De acordo com João Victor Vieira, cofundador e CEO da Brazilian’s NFTs, o alto valor agregado das obras é explicado pela união da arte com a tecnologia e, especialmente, por se tratar da denúncia de uma tragédia ambiental que deixou sequelas na natureza e na sociedade. “Estes trabalhos se destacam pela formatação do NFT, por ser um recurso novo e com vários atributos, que podem gerar uma valorização maior dessas propriedades no futuro. E, claro, porque são de autoria de uma das primeiras artistas plásticas brasileiras a entrar no mercado de NFT, expondo a situação dramática do Pantanal.”

As queimadas de 2020 foram as piores já registradas na região e grande parte delas estava relacionada ao desmatamento e às práticas inadequadas de reforma das pastagens em períodos de seca. Segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em agosto do último ano as queimadas tiveram um aumento de 200% no bioma. E, entre janeiro e outubro, o Pantanal já acumulava mais de 21 mil focos de queimadas, a pior marca da história para os 10 primeiros meses de um ano. De acordo com o Lasa (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais), da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), em 2020 as chamas consumiram cerca de 28% do Pantanal.

Por residir em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, próximo às reservas do Pantanal, João Victor Vieira afirma que as queimadas foram uma experiência traumática para a população e as obras de arte representam esse drama coletivo. “Sou praticamente vizinho do Pantanal e me lembro que visualizar o céu coberto de cinzas, pensar nas perdas de animais, vegetação e outros recursos insubstituíveis e nos riscos enfrentados pelos brigadistas gerou pânico e revolta entre muitas pessoas. Além do fato de que a região continua sendo afetada por queimadas, extrativismo ilegal e outros crimes”, conta. “Dessa maneira, a pintora Isabê transpôs para os quadros não apenas a nossa angústia, como também o possível sofrimento dos animais e de outras formas de vida que foram destruídos ou agredidos de alguma forma. E os nomes das obras foram pensados para apelar diretamente para os sentidos, pois eles também foram atingidos pelas tragédias ambientais a ponto de transformar nossas percepções e nos deixar inertes, sem saber o que fazer para minimizar os danos ao Pantanal”, explica o empresário.

A partir dessa premissa, a exposição pretende chamar a atenção do público para um problema que persiste até hoje e incentivá-lo a agir. “É uma chamada para a conscientização. Apesar do medo e da agonia representados nas telas, há uma mensagem de mobilização”, declara Vieira.

O NFT como aliado do meio ambiente e das artes

Os NFTs tornaram-se os queridinhos de negócios cada vez mais digitalizados. Segundo dados do site “NonFungible.com”, esse mercado movimentou US$ 2 bilhões no primeiro trimestre deste ano, valor 20 vezes superior ao dos três meses anteriores e 131 vezes todo o dinheiro movimentado entre janeiro e março de 2020. E esse cenário promissor foi a motivação para a galeria Brazilians’s NFTs unir a tecnologia de propriedade de ativos digitais à arte. “A empresa foi fundada em março, quando minha sócia, Isadora Leão, e eu notamos a existência de um mercado muito forte no exterior que paga valores altíssimos por arte. O Brasil, porém, ainda estava pouco inserido nesse nicho. E esses tokens estão mobilizando muitas operações nos ambientes digitais e gerando bons rendimentos. Então, criamos um espaço para inserir artistas e suas obras no mundo dos NFTs”, relata.

Por outro lado, o empresário aponta que a digitalização de obras de arte pode contribuir não apenas para impulsionar o mercado artístico brasileiro, como também democratizar o acesso à cultura e expandir o alcance de diferentes perspectivas, como o alerta ambiental da exposição “Pantanal”. “Apesar do mercado de NFTs estar em ascensão, relacionar a arte com a tecnologia, de algum modo, pode aproximar as pessoas de movimentos sociais e culturais relevantes. Fugir desse compromisso é um enorme desperdício dos potenciais transformadores que a cultura e o mercado milionário dos NFTs podem desempenhar no mundo, principalmente com tantas catástrofes ambientais e climáticas ocorrendo.”

Com uma boa expectativa de arrecadação com as obras no leilão, João Victor Vieira espera que os 20% reservados ao SOS Pantanal contribuam com a eficiência de suas operações, além de consolidar a parceria da galeria de arte com a ONG para projetos futuros.

“Qualquer ajuda, seja de uma pessoa física ou jurídica, pode auxiliar no trabalho da organização. E acredito que esse percentual será bastante útil na extensão de seus projetos de proteção ambiental e regeneração do Pantanal. E é um compromisso que vai além da exposição, pois também há problemas graves em outros biomas brasileiros. A arte e a tecnologia podem fazer a diferença no mundo”, conclui.

O leilão, iniciado em 6 de agosto, vai até 2 de setembro. E, com a impossibilidade de visitação de locais físicos em razão da pandemia de Covid-19, a coleção “Pantanal” está exposta de modo online e com a tecnologia 3D, oferecendo uma experiência interativa de visualização por celular ou computador.


Fonte: Forbes – Clipping: LDSOFT
Foto: Forbes