Inovar é preciso?

As crises econômica, social e ambiental, que se observam no mundo, não têm intimidado o surgimento de novas fronteiras tecnológicas, o que exige a busca e a adoção das mais variadas formas de enfrentamento e estratégias.

Esta situação, com certeza, tem sido uma das causadoras da redução do tempo de obsolescência de máquinas e equipamentos para pesquisa, para produção e para consumo e indutora de uma atualização tecnológica constante.

Esta particularidade confirma que a diferenciação de produtos e processos e a inovação já são, e serão, cada vez mais, importantes ferramentas de consolidação em um determinado mercado ou para entrada em outros.

Percebe-se, também, que países com visões mais claras e com objetivos melhor definidos adotam estratégias de crescimento nas quais são visualizados os atores, definidos os seus papéis (leia-se capital privado e público) e evitadas sobreposições.

Nestes países, o investimento na formação de capital humano e em CT& I estão sempre nas prioridades das empresas e dos Governos (guardadas as suas especificidades).  Certamente, esta estratégia não só fortalece as economias para as manterem nas lideranças setoriais, mas, também, concedem vantagens competitivas para estarem na vanguarda e, principalmente, para se fortalecerem, quando do reestabelecimento da economia mundial.

É certo que a CT&I, por ser uma atividade complexa, de resultado incerto e de alto custo (em alguns casos) os Governos exercem, não só um papel muito importante de identificador das prioridades e investidor nos segmentos que sejam considerados como estratégicos para cada país, mas também de motivador e facilitador para o investimento privado.

Mazucatto (2014), em seu livro “O Estado Empreendedor” menciona que o governo americano investiu recursos na segurança (considerada como uma temática das mais importantes nos EUA) e os resultados das pesquisas realizadas foram utilizados pelo governo nas tecnologias do GPS, bateria de lítio, entre outras. Entretanto, a Apple juntou 12 dessas tecnologias geradas e criou o Iphone, o Ipad e o Ipod. Valeu a pena? Claro. Basta analisar o avanço do país em áreas de segurança, como a situação econômica da empresa e os impostos e empregos gerados.

Como estratégias muito utilizadas, também, em nível mundial, percebemos o intercâmbio de alunos, professores e pesquisadores, a adoção de trabalho em rede nos âmbitos nacional e internacional e, finalmente, o incentivo a projetos cooperativos. Podemos afirmar que estas ações, além de difundirem os conhecimentos e as experiências, minimizam tempo e custo em atividades de P&D e concedem mais confiança no resultado e na aplicabilidade de algumas pesquisas? Em minha opinião é mais do que lógico e factível. Os efeitos da globalização estão aí para todos comprovarem. Hoje, os limites são somente físicos ou impostos pelo homem, mas os trabalhos em Redes Nacionais ou Internacionais vêm sendo cada vez mais utilizados para minimizarem estes limites.

Como experiência de projetos em Rede, podemos citar um apoio concedido pela Finep à UFPE, e que contou com a participação de UFRN, UFPI , entre outras, e uma empresa privada. Este projeto pesquisou e avaliou o uso de resíduo do processamento de camarão marinho para produção de moléculas bioativas de alto valor agregado. A sua execução permitiu o desenvolvimento de um adesivo para azulejos e pastilhas de vidro, além de produto para consolidação de fraturas animais e membranas curativas.

Com certeza, se o Brasil pretende sair deste sedentarismo inovativo, que se observa, precisa ser mais ativo em termos de adotar políticas mais claras e objetivas, envolvendo todos os atores do sistema. Não cabe à Academia apontar prioridades que não atendam às necessidades ou anseios do segmento privado ou que seus resultados apresentem uma aplicabilidade limitada. Por outro lado, o segmento privado precisa se conscientizar de que inovação é uma importante ferramenta para o desenvolvimento e que as ICTs são parceiras fundamentais para facilitar o crescimento econômico. Estudos mostram que empresas que interagem com universidades e institutos são mais inovadoras e competitivas.

Seria oportuno citar o projeto da UFRGS que, em parceria com uma empresa privada, considerada como a maior produtora de sistemas de freio da América Latina, desenvolveu e instalou um equipamento destinado à análise de sistemas de freios. Esse equipamento possui diversas vantagens em relação aos já existentes, além de menor custo, tendo sido solicitado o registro de patente junto ao Inpi, em parceria com a empresa.

No entanto, a realidade verificada pelo MCTI mostra que apenas 36% das empresas brasileiras inovam e 40,4% se apoiam em benefícios do governo federal. Estes benefícios podem ser interpretados como condições diferenciadas de crédito, projetos de subvenção, projetos cooperativos, elaborador de políticas temáticas para investimento dos recursos, leis que incentivem a aplicação dos recursos pelas empresas, entre outros.

Não restam dúvidas de que o(s) governo(s) devem exercer o seu papel de indutor e investidor.  Entretanto, o capital privado precisa estar atento às mudanças que vem ocorrendo a nível mundial em termos econômicos, sociais e ambientais e em seus segmentos de atuação. É preocupante quando verificamos que um estudo da CNI de 2016, mostra que o País perdeu 4 dos 9 fatores que determinam a capacidade das empresas vencerem os concorrentes em comparação com 17 países de economias similares e dentre estes fatores a “tecnologia e a inovação” aparecem.

É fundamental que as empresas sigam o exemplo do Circo de Soleil, que utiliza a inovação no seu desenvolvimento. A estratégia adotada pela instituição tem lhe concedido o reconhecimento como uma das empresas mais inovadoras do mundo. A empresa diz que “as organizações precisam usar a inovação e o conhecimento para elevar seu patamar de performance. Dessa forma, elas serão capazes de criar novas vantagens competitivas para se diferenciar no mercado”. Para eles a inspiração e a intuição são levadas em conta, mas prevalece a investigação como catalisadora.

Entretanto, apesar da inovação (tanto as que originam, como as que não partem da P&D) ser um elemento fundamental para o crescimento econômico e social, precisa-se ter como estratégia o investimento nos elementos facilitadores que incentivam a pesquisa nas universidades, bem como a busca de condições atrativas de crédito direcionado para as micro e pequenas empresas, principalmente porque no Brasil estas respondem por 99 % do mercado (nos EUA 90 %).

Não é novidade que numa ponta temos as ICTs, onde se realiza boa parte das pesquisas, que forma o capital humano e permite o desenvolvimento ou o aperfeiçoamento de etapas que estejam ou que levem a novos produtos e/ou processos. Ou seja, ser o local da geração do conhecimento.

Na outra verificamos que se encontram as empresas, nas quais as micro e pequenas que, por possuírem uma estrutura enxuta, apresentam maior mobilidade para direcionarem esforços na absorção dos resultados destas pesquisas ou para adotarem estratégias que diversifiquem/diferenciem produtos ou processos. Seria o espaço da criatividade.

Cabe destacar que no centro da cadeia temos instituições fundamentais ao desenvolvimento da atividade de PD&I, entre as quais citamos a Agência Brasileira de Inovação-Finep.

Com base em um trabalho que fizemos em 2014 (a partir de uma demanda da diretoria da Finep à época), percebemos que o Brasil, no período de 2004 a 2014, estaria seguindo – não na mesma proporção financeira – a linha de raciocínio verificada no mundo em termos de investimentos para a pesquisa, quanto às áreas de conhecimento. Constatamos, também, que foram aplicados somente R$ 4,4 bilhões de reais em ICTs, por meio de 2.394 projetos, tanto de pesquisa, quanto de infraestrutura. Infraestrutura centrada, basicamente, em equipamentos e obras de instalações.

Na ocasião foi identificado, também, que os projetos com característica multidisciplinar foram os que apresentaram maior crescimento e participação, o que poderia estar associado ao direcionamento das pesquisas em temas como biodiversidade, biossegurança, nanotecnologia, biotecnologia, energias renováveis e tecnologias verdes, corroborando uma aderência do País às transformações observadas mundialmente. Nada impede que, na atualidade, os projetos interdisciplinares ganhem mais espaço.

Conclusivamente, não seria pretencioso afirmar que a Finep possui experiência na condução de ações e projetos que tenham a PD&I como objetivos a serem alcançados e que as parcerias realizadas geraram bons frutos ao País.

Fonte: Jornal da Ciência