Não se deixe enganar pelos rankings de qualidade de marcas

Você deixa de comprar determinada marca de alimento depois de ver uma reportagem feita sobre uma pesquisa para avaliar padrões de higiene na linha de produção. Entre uma série de marcas testadas, a que você costumava comprar ficou em último lugar. Isso foi suficiente para abalar a sua confiança, assim como provavelmente aconteceu com centenas de outros consumidores. Estamos falando de um cenário hipotético, mas uma situação como essa é suficiente para deixar qualquer empresa de cabelo em pé e acionar departamento de gestão de crises – exatamente porque esse tipo de repercussão costuma ter muito impacto no mercado.
No entanto, apesar de todo o alvoroço gerado em situações assim, como você pode ter certeza de que a diferença entre a marca mais bem colocada e a que ficou em último lugar realmente é tão substancial? Essa é uma tática usada com frequência – especialmente por publicitários – para enaltecer determinados produtos, mas a realidade é que em muitos casos há um holofote grande demais para pouco show.

Isso porque muitas comparações são feitas com amostragens tão pouco significativas que não é possível, matematicamente, encontrar tantas diferenças entre o melhor e o pior colocado. No livro “Como mentir com estatística”, o autor Darrell Huff usa um exemplo interessante como ilustração. Imagine um teste de QI em que uma pessoa tem a pontuação 98, enquanto a outra fica com 101 – considerando a média fixada em 100. Por uma diferença mínima, va, uma será considerada abaixo da média e o outra, acima.

Objetivamente, isso não quer dizer praticamente nada – tendo em vista que o teste de QI tem um espectro limitado para medir a inteligência de alguém. Características importantes como liderança e criatividade, por exemplo, são ignoradas nesse teste. No entanto, por já ter uma validação no imaginário das pessoas como uma referência de inteligência, afirmar que o sujeito A tem um QI abaixo da média, enquanto o sujeito B está acima da média, é algo que acaba causando um impacto muito grande.

Vale considerar ainda que os testes de QI, assim como quaisquer outros, contam com uma margem de erro. Ou seja, se ela for considerada, os resultados de A ou B são muito semelhantes, mas ainda assim um dos indivíduos sai com uma imagem negativa, enquanto o outro recebe o rótulo de super inteligente.

Da mesma forma, quando você olha uma pesquisa ou teste que compara marcas e se norteia apenas entre o melhor e o pior no ranking, seu julgamento provavelmente será feito com base em uma evidência muito fraca – tendo em vista que os resultados de todas as marcas podem ser muito semelhantes.

Basta omitir os números realmente relevantes, além de criar uma chamada quente destacando o ranking, que o barulho é suficiente para abalar o comportamento das pessoas. Sendo assim, cuidado com o excesso de confiança que você der a determinada marca em detrimento de outra quando se deparar com esse tipo de comparação – que costuma acontecer com frequência, tanto no noticiário quanto em campanhas publicitárias. Os números que os publicitários mais fazem questão de destacar são os que menos devem fisgar sua atenção. Fique atento ao que não querem te mostrar para que você faça um julgamento mais preciso daquilo que considera melhor para o seu consumo.