Nasa muda nome da 1ª nave que entrará na atmosfera do Sol em homenagem a cientista

Sonda que será lançada a partir de 31 de julho tem o objetivo de descobrir detalhes inéditos sobre a física do astro; novo nome é tributo ao astrofísico Eugene Parker, de 89 anos, que previu a existência dos ventos solares em 1958

A Nasa anunciou ontem o novo nome da esperada missão que enviará uma espaçonave pela primeira vez à atmosfera do Sol. A nave Solar Probe Plus, que será lançada entre 31 de julho e 17 de agosto, agora se chama Parker Solar Probe (Sonda Solar Parker), em homenagem ao astrofísico Eugene Parker, da Universidade de Chicago.

Preparada para suportar temperaturas e bombardeios de radiação que nenhuma outra espaçonave já enfrentou, a Sonda Solar Parker chegará a uma distância inédita da superfície solar. Além de descobrir detalhes sem precedentes sobre a física do Sol – revelando processos que ocorrem em todas as outras estrelas do Universo -, a espaçonave também ajudará os cientistas na previsão de eventos solares que afetam a Terra.

Em 1958, quando ainda era um jovem professor, Parker previu que o Sol lança constantemente ao espaço um fluxo de partículas e magnetismo em velocidade supersônica – os chamados “ventos solares”. Na Terra, o fenômeno causa tempestades solares capazes de afetar os sitemas de satélites, interrompendo o funcionamento da internet, GPS, sinais de rádio, telefone e TV.

Aos 89 anos, Parker é o primeiro cientista a ser homenageado em vida com o nome de uma missão da Nasa. “Estou altamente honrado por ser associado a uma missão científica espacial tão heróica”, disse Parker em evento realizado na sede a agência espacial em Washington (EUA).

“A sonda solar irá a uma região do espaço que nunca foi explorada antes. É muito emocionante saber que finalmente vamos dar uma olhada ali. Qualquer um gostaria de ter informações mais detalhadas do que se passa no vento solar. Tenho certeza que haverá algumas surpresas. Sempre há”, completou Parker.

O trabalho de Parker foi desenvolvido a partir de um mistério relacionado às temperaturas do Sol. Ele teorizou que uma temperatura tão alta na corona deviera criar uma situação instável, na qual a atmosfera solar, fazendo com que ela deixasse de ser contida pela gravidade do Sol, escapando para o espaço.

Ele calculou então que a atmosfera solar é ejetada em uma velocidade incrível, provocando um “vento solar” supersônico, de mais de 640 quilômetros por segundo . Inicialmente, os cientistas não levaram a ideia a sério, mas observações diretas provaram que Parker estava certo.

“A Sonda Solar Parker responderá questões sobre a física solar que têm nos deixado confusos por mais de seis décadas. É uma espaçonave carregada com inovações tecnológicas que resolverão muitos dos principais mistérios sobre a nossa estrela. Um deles é descobrir por que a corona é tão mais quente que a superfície solar”, disse durante o evento Nicola Fox, do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins.

“Estamos muito orgulhosos de levar o nome de Gene conosco para essa incrível viagem de descobertas”, afirmou Nicola, que é uma das cientistas responsáveis pela missão.

Detalhes da missão. Com 612 quilos, três metros de altura e 2,3 metros em sua parte mais larga, a nave foi construída para suportar temperaturas de mais de 1.400 graus Celsius. Ela será lançada por um foguete, entre 30 de julho e 17 de setembro, a partir do Centro Espacial Kennedy, da Nasa, na Flórida.

Depois do lançamento, na primeira quinzena de agosto, a Sonda Solar Parker usará a gravidade de Vênus para tomar “embalo”, aproximando-se cada vez mais da atmosfera solar.  Ao todo, a nave passará sete vezes por Vênus e se aproximará do Sol 24 vezes.

Nas últimas três órbitas em torno do Sol, a sonda chegará à sua máxima aproximação da atmosfera solar: cerca de 6,3 milhões de quilômetros da superfície da estrela. Trata-se de um sobrevoo muito próximo, considerando que a distância média entre a Terra e Sol é de 150 mihões de quilômetros. Até agora, a espaçonave que mais se aproximou do Sol foi a Helios 2, que chegou a 43,5 milhões de quilômetros de sua superfície em 1976.

Com custo de cerca de U$S 1,5 bilhão, a missão deverá mudar radicalmente a compreensão sobre o Sol e sobre sua influência no clima espacial – incluindo as tempestades solares que danificam os sistemas de satélites e as redes de eletricidade na Terra.

Além de enfrentar temperaturas de até 1.377 graus Celsius, a Sonda Solar Parker será submetida a um intenso bombardeio de radiações de alta energia supersônica. Por isso ela é equipada com um escudo especial de 11,3 centímetros de espessura, feito de um composto de carbono.

As placas solares que fornecerão energia à nave devem manter temperaturas adeaquadas, por isso elas se retraem durante as aproximações do Sol e se abrem quando a nave se afasta. Acoplado às placas solares, também existe um sofisticado sistema de refrigeração.

Os sensores e propulsores de controle de direção mantêm o escudo sempre voltados para o Sol durante toda a trajetória da nave. A parte mais estreita, hexagonal, tem um tanque de propelente embutido. Os instrumentos científicos ficam nos paineis frontais e traseiros.

Quando a espaçonave está longe do Sol, um sistema de telecomunicações fornece contato de alta velocidade por meio de uma antena de alta performance. Durante as aproximações, a nave ativa um sistema de contato de baixa velocidade, por meio de antenas de baixa performance.

Um conjunto de instrumentos científicos irá avaliar as fontes e a aceleração das partículas solares que podem afetar equipamentos de energia e telecomunicações na Terra e a saúde de astronautas que trabalham no espaço.

Os instrumentos foram desenhados para medir propriedades chave das partículas ejetadas pelo Sol, como a composição e intensidade dos prótons e dos elementos pesados, assim como elétrons energéticos em múltiplas direções, em diversas partes do espectro de energias.

Fonte: Estadão