Pandemia estimula startups a registrar patentes

Isolamento social fez movimentação de pequenos empreendedores aumentar nos escritórios.

A pandemia estimulou pequenos empreendedores a inventar equipamentos e até medicamentos que possam auxiliar no tratamento da covid-19. É o caso de uma cabine de descontaminação de compras de supermercado, de um sugador para limitar o contato entre paciente e dentista e de medicação para minimizar as sequelas da doença. Segundo estatísticas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), já existem, ao menos, 127 pedidos de patentes relacionadas à pandemia.

A cabine de descontaminação é uma invenção dos irmãos goianos Ernane Matos e Natanael Freire, donos da startup Light Descom. Eles criaram o protótipo e fecharam parceria com a HMY – fornecedora de gôndolas e outros mobiliários para redes varejistas – para a produção em escala industrial. O Carrefour foi uma das primeiras redes a adotar o equipamento. Há mais de cem unidades com a cabine.

Atento às novas tecnologias, Matos conhecia o poder da luz ultravioleta para descontaminar objetos. “No início da pandemia, ouvi infectologistas falando do poder de contaminação desse vírus. E ao ver o desespero das pessoas no supermercado pensei que elas iriam levar a contaminação para casa porque, em um primeiro momento, todo mundo lava tudo com álcool, mas com o tempo vai relaxando”, diz. “Liguei os pontos e concluí que poder ia-se fazer uma cabine UV para descontaminar compras de forma prática e simples. Nossa cabine chega a 99,99%de efetividade sobre onde a luz ultravioleta irradia.”

Representante da startup no INPI, a advogada Fernanda Picosse, da Iplatam Marcas e Patentes, afirma que ficou surpresa com a movimentação de tantos pequenos empreendedores no escritório, com ideias sobre produtos que poderiam auxiliar no combate ou prevenção da covid-19 e sobre sustentabilidade. “Recebemos consultas diárias. O lado bom desse cenário de crise, em que as pessoas estão descapitalizadas, é que aparecem ideias novas para empreender”, diz.

As patentes que tratam do combate à covid-19 estão entre os 16 temas com tramitação prioritária no INPI. Do total de 127 pedidos relacionadas à pandemia, 29já foram concedidos, 22 negados, 18 arquivados (por exemplo, por falta de recolhimento de taxa administrativa ou pedido de exame técnico), 14 foram para a segunda instância e 18 estão entre o depósito do pedido e o requerimento de exame. O tempo médio de decisão da patente é de 257 dias, ou seja, 8 meses e meio.

A maioria dos pedidos tem origem no Brasil. São 59 solicitações. Em seguida, Estados Unidos com 38 e Japão com 21. Depois vem a China com 6 pedidos, seguida da Alemanha e França com 4. Existem pedidos feitos por mais de um país, por isso a soma extrapola o número de pedidos existentes.

O advogado Franklin Gomes, do FG Propriedade Intelectual, também afirma ter sido procurado por pequenos empreendedores. Eles inventaram um sugador odontológico mais seguro para evitar a contaminação, além de medicação para auxiliar no tratamento da covid-19, que também está sendo analisado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Mas eu vejo que faltam informações e suporte técnico adequado para esses pequenos inventores”, diz.

De acordo com o engenheiro Alexandre Trinhain, do Iplatam Marcas e Patentes, o pequeno inventor precisa fazer sua lição de casa: primeiro analisar se realmente é algo inovador e depois obter ajuda especializada na área de patentes. “Existem casos de pessoas que são ludibriadas e buscam um parceiro investidor sem seres guardar de que ele é realmente o autor da invenção.”
(Colaborou Laura Ignacio)


Fonte: Valor | Clipping: LDSOFT
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