Para empresários, Brasil desperdiça potencial da biodiversidade

Pesquisa da CNI aponta os principais obstáculos ao desenvolvimento da bioeconomia, apesar do aumento da importância dada ao uso sustentável da biodiversidade nos últimos anos.

Sobra consciência quanto à importância da adoção de práticas sustentáveis no Brasil, mas faltam perspectivas de longo prazo e políticas públicas adequadas para que o setor industrial possa se beneficiar da biodiversidade como diferencial competitivo. Para 84,2% dos empresários brasileiros, o país não tem tirado proveito de todo o potencial desse mercado. É o que revela a pesquisa da CNI ‘Retrato do uso sustentável de recursos da biodiversidade pela indústria brasileira’, apresentada no seminário.

O levantamento ouviu 120 executivos de empresas de pequeno, médio e grande portes de diversos segmentos para verificar os principais desafios e as oportunidades em relação ao uso sustentável da biodiversidade no setor industrial brasileiro. Para 86,7% dos gestores, a importância dada ao tema aumentou nos últimos cinco anos, especialmente em função de três aspectos: maior conscientização das pessoas, campanhas na imprensa e atenção dada pelos empresários ao uso sustentável da biodiversidade. O aspecto legal ocupou a quarta colocação entre os motivos citados.

“A maioria das empresas hoje entende a questão ambiental como estratégica para o negócio. O setor industrial tem uma forte percepção de que sustentabilidade e competitividade andam juntas e que o futuro depende da preservação da biodiversidade do país. Mas o estudo mostra também questões que podem travar o aprimoramento de ações empresariais nesse sentido”, comenta a diretora de Relações Institucionais da CNI, Mônica Messenberg.

A executiva refere-se ao dado que demonstra o elevado grau de desconhecimento dos gestores empresariais quanto às políticas e programas do governo voltados à conservação e ao uso sustentável da biodiversidade. Apenas 25,8% dos empresários conhecem iniciativas governamentais que incentivam essas práticas e, desses, apenas 22,6% se beneficiam delas.

O estudo apontou ainda que 67,5%dos entrevistados consideram que as linhas de financiamento público são insatisfatórias para estimular o uso sustentável da biodiversidade pela indústria, especialmente porque não há informação sobre os recursos disponíveis (veja box).

O problema afeta principalmente as empresas de pequeno e médio portes-as que menos investem em desenvolvimento de produtos e práticas sustentáveis, justamente pela dificuldade de adaptação a regulamentos e pela falta de um ambiente favorável para colocar suas ações em prática.

Entre as medidas apontadas como fundamentais para o engajamento e as ações empresariais no uso sustentável e na conservação da biodiversidade estão incentivos fiscais (26,7%), fiscalização adequada e orientada (21,7%), disponibilidade de recursos e de linhas de crédito (14,2%) e regras claras e segurança jurídica (13,3%).

Na avaliação de Mônica Messenberg, investir em práticas sustentáveis como uso devido da bio diversidade exige planejamento e recursos, pois são investimentos caros e com retorno no longo prazo, em geral. Além disso, as empresas de pequeno e médio portes costumam enfrentar uma série de dificuldades,que vão desde a obtenção de patentes até a aprovação dos produtos em órgãos reguladores competentes.

“São questões que deixam o empresário inseguro para investir.Assim como a CNI, o governo tem um papel importante no sentido de estimular práticas sustentáveis, especialmente no uso de recursos da biodiversidade. É um conjunto de ações que precisa reunir esclarecimento e educação para que haja uma efetiva mudança de cultura”, conclui.

Fonte: O Globo