Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para a Inovação avançam em AL

Mestrado nacional, sediado na Ufal, formará profissionais para atuar no diálogo com empresas, instituições e sociedade como agentes de inovação

Em 2013, Alcilene Vieira Ferreira se formava em Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas. Anos depois, em busca de um novo desafio em sua carreira, decidiu se inscrever no Programa de Pós-graduação em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para a Inovação (Profnit). O resultado? Positivo! Desde então, ela se dedica às atividades do mestrado profissional em rede nacional, cuja sede é a Ufal, e, até 2019, terá diploma de mestre para trabalhar como agente de inovação em uma área recém-chegada ao Estado.

“Ao ler do que se tratava o curso, de imediato, eu quis fazê-lo, pois já tinha algum conhecimento no ramo, devido ao projeto Agentes Locais de Inovação do Sebrae em parceria com o CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], do qual participei entre 2013 e 2015. Fiquei muito feliz em saber que tinha sido aprovada na seleção, pois vejo que essa é uma área riquíssima e, sem dúvidas, agregará valor à minha carreira no campo da comunicação”, afirmou Alcilene, que também está concluindo a graduação de Relações Públicas na Universidade.

Criado há três anos, o Profnit dedica-se ao aprimoramento da formação profissional e à capacitação de pessoas para atuar em Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) e em Ambientes Promotores de Inovação nos setores acadêmico, governamental, empresarial, entre outros. É uma contribuição da Associação Fórum Nacional de Gestores de Inovação e Transferência de Tecnologia (Fortec), distribuído pelo país em 12 Pontos Focais – instituições que matriculam alunos, emitem diplomas e se responsabilizam por toda a rotina acadêmica.

Como tudo começou

O pró-reitor do Profnit e docente do curso na Ufal, Josealdo Tonholo, é um dos responsáveis pela criação do Programa – que antes de ser aprovado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em 2015, fora submetido incialmente como uma proposta de doutorado, porém recusada. Ele explicou que “a própria Capes induziu a transformação deste projeto em mestrado profissional, então, foram feitos apenas ajustes do que já estava pronto. Por causa disso, a Ufal nem passou por aprovação. Ocorreu, na verdade, a adesão da Universidade ao Programa pelo Consuni [Conselho Universitário], num processo tranquilo que durou cerca de 20 dias”.

Passado o período de adaptações, em 18 de abril de 2016 a pós-graduação strictu sensu entrou em operação. Com isso, uma nova sede precisava ser nomeada e, de forma muito natural, a Ufal foi escolhida pelos conselheiros, como recordou o professor: “No início, colocamos a UFBA [Universidade Federal da Bahia] como tal porque a proposta do Profnit saiu de lá. Mas, assim que o curso começou a funcionar, elegemos a nova sede e, pelo histórico de liderança no processo, todos entenderam que a Ufal deveria ocupar esse posto”.

A professora do Profnit, Eliana Almeida, que também é coordenadora do Programa de Inovação Tecnológica e Empreendedorismo (Pite) da Ufal e membro da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (Propep), destacou a importância da Universidade ser sede do Profnit: “Isto é resultado do apoio que este mestrado tem recebido da gestão, bem como mostra que a Ufal possui um corpo docente de qualidade e com vocação para inovar e empreender”.

A primeira turma do mestrado teve início em agosto do ano passado e já existe uma segunda, cujas aulas começaram em março e da qual Alcilene faz parte. “Houve uma limitação de cem vagas para o país todo na seleção anterior e, para a Ufal, conseguimos apenas nove. Já na turma seguinte, colocamos 28 vagas e, dessas, também tivemos para cotistas, afrodescendentes, indígenas, o que corrobora a política de ações afirmativas da Universidade”, explicou Tonholo.

O processo seletivo

Para ingressar no Profnit, o candidato passa por duas etapas: na primeira fase, uma prova com 40 questões de múltipla escolha e de caráter eliminatório e classificatório é aplicada simultaneamente em todos os pontos focais. A quantidade de alunos que avançam para a etapa seguinte equivale a três vezes o número de vagas disponíveis no ponto focal escolhido no ato da inscrição. Os aprovados vão para a análise curricular, fase apenas classificatória, em que são avaliados três tópicos: formação acadêmica, experiência profissional e atividades complementares sem vínculos empregatícios.

É importante realçar que as atividades elencadas no currículo devem estar relacionadas à propriedade intelectual e transferência de tecnologia para a inovação, área de concentração do curso, além de necessitar comprovação mediante certificados ou declarações. “Se durante a graduação o aluno fez parte de projetos de iniciação científica, foi bolsista de extensão ou fez o Ciência sem Fronteiras, já contam pontos na análise curricular. Se possui emprego, desenvolveu algum programa ou participou de alguma atividade na área de inovação a pontuação é ainda maior”, exemplificou Tonholo.

Nos dois processos seletivos, a Ufal foi o ponto focal recordista no número de inscritos, o que acentua o avanço do curso em Alagoas. A professora Eliana Almeida reforçou que “tal número já nos mostra a demanda reprimida por especialização nesta área” E ela acrescenta: “Além disso, o Profnit demonstra a preocupação em proteger nossa pesquisa. Isso passa pela formação de profissionais que tenham experiência em gerir a produção intelectual, ou seja, que entendam de patentes, realizem prospecção tecnológica com qualidade, saibam atuar na transferência de tecnologia e diversas habilidades cujo objetivo maior esteja em torno da proteção das criações”.

A metodologia de ensino 

O Profnit é um curso presencial de Conceito 4 na Capes, gratuito e em rede nacional. Cada um dos pontos focais tem estratégia própria no tocante aos dias letivos, decididos em acordo entre estudantes e professores. Em Alagoas, 15 docentes ministram as aulas de quinta a sábado. Outro ponto relevante é que, por ser em rede, o aluno pode ter aula em qualquer outra instituição que seja ponto focal, visto que a aula daqui é a mesma a ser ministrada nas demais instituições, o material didático é o mesmo e o que muda é a dinâmica do ensino.

Com algumas ressalvas, a lógica se repete na aplicação das provas. “Uma parte da nota é local, com trabalhos e provas feitas aqui; a outra metade é uma prova nacional, feita no mesmo horário e em todo o país. Isso é importante para garantir que o aluno tenha a mesma base disseminada, ou seja, o gestor de transferência e tecnologia da Ufal fala a mesma língua daquele que está lá na Amazônia”, esclareceu Tonholo.

A dinâmica acima também é apontada por Alcilene. Segundo ela, a pós-graduação tem superado suas expectativas a cada dia: “É totalmente diferente do que já vi. Por exemplo, numa só disciplina tenho vários professores ministrando os conteúdos previstos. Cada aula é única e, claro, bem densa, uma vez que sempre tem muitas coisas para estudar. É um mundo novo, cheio de descobertas”.

E esse “mundo novo” é composto por seis disciplinas obrigatórias e duas eletivas, que fazem parte da matriz curricular do Programa, cuja duração é de quatro semestres. O último deles é dedicado à Oficina Profissional, atividade de maior pontuação, e à elaboração e defesa do Trabalho de Conclusão de Curso. Para tal, o aluno tem 18 opções de produtos que podem ser apresentados, tais como artigo, monografia, software, propostas de lei e outros mais.

Na opinião de Tonholo, essa ampla quantidade de alternativas para apresentação no encerramento é um dos importantes diferenciais com relação ao mestrado acadêmico, já que este visa a criação de produtos científicos. No Profnit, “a ideia é que o aluno acabe a tese com algo que vá para o mercado de alguma forma e dê benefícios para a sociedade, pois nas aulas ele recebe a orientação para isso”, salientou.

Apesar de ter começado a estudar em março, Alcilene se pegou cogitando seu projeto de conclusão e ponderou: “Como a dinâmica do Profnit é um pouco diferente dos demais, por se tratar de um mestrado profissional, terei que desenvolver algo que impacte no ambiente de trabalho. Por isso, penso em fazer algo que agregue valor na área de comunicação, a qual pertenço. Mas só definirei daqui a alguns meses, por enquanto, estou analisando os melhores e possíveis caminhos que devo seguir”.

Variedade de profissionais enriquece e diferencia o curso

O Profnit é direcionado para graduados em qualquer área de formação, que atuem ou tenham atuado em atividades referentes à inovação. Para Josealdo, o perfil dessas primeiras turmas atendeu exatamente ao que o mestrado se propunha: “Aqui os alunos são os gestores de NITs da Ufal, da Uncisal [Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas] e do Ifal [Instituto Federal de Alagoas]; Agentes Locais de Inovação, funcionários e consultores do Sebrae; membros da Secretaria de Ciência e Tecnologia, do Governo do Estado, da Fapeal [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas], do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística]; além de funcionários e egressos da própria Ufal, inclusive do interior”.

Ele ressaltou ainda a diversidade de profissionais, como químicos, bibliotecários, jornalistas, engenheiros, médicos, advogados, contadores, entre outros, o que faz disso um diferencial. “É algo raro entrar numa sala de mestrado e ter discentes das mais diversas áreas. A riqueza do ambiente é muito grande”, acentuou Tonholo. Essa verdade também foi frisada por Alcilene: “É um ponto positivo, uma vez que oportuniza a discussão e a visão de diferentes áreas acerca da importância da Propriedade Intelectual como um todo. Isso enriquece o processo de aquisição do conhecimento, pois é possível ter uma visão mais sistêmica”.

Crise preocupa, mas ainda não atrapalha o Profnit

Diante da instabilidade financeira que o país tem atravessado nos últimos anos, a diminuição do repasse das verbas públicas para as Instituições de Ensino Superior é um ponto preocupante. Sobre as possíveis dificuldades enfrentadas pelo mestrado em razão dessa situação, Tonholo destacou o fato de não haver bolsas para alunos ou professores, porém, como o curso é voltado para o profissional de mercado, a maioria dos custeios com viagens para eventos, ou no desenvolvimento de projetos, é feito pelas empresas ao qual o estudante está vinculado.

A área de atuação do Profnit foi outro ponto citado pelo professor: “Nosso setor é intimamente relacionado à capacidade produtiva das empresas. Quando a produção diminui, passam a investir menos em inovação e, consequentemente, deixam de patentear, de transferir tecnologia”. Ele ainda fez uma comparação com as universidades ao citar que o corte dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento proporcionalmente decresce a quantidade de produtos a serem patenteados.

Embora os recursos façam falta, isso não é um fator limitante para o Profnit. “Nosso curso tem uma infraestrutura muito barata, comparada à pós-graduação de Química, por exemplo, porque não precisa de laboratório, nem de equipamentos. Só precisamos ter sala de aula e, quanto aos computadores, os alunos trazem os seus”, amenizou Josealdo.

As ferramentas utilizadas no Programa são os bancos de dados de Propriedade Intelectual e softwares referentes às patentes, viabilizadas mediante patrocínios, como o Questel Orbit, produzido pela Axonal, e o Vantage Point. Conforme o professor, tais utilitários são extremamente caros, porém, devido à parceria, todos os estudantes e docentes do Profnit têm franquia de uso durante determinado período de tempo.

Perspectivas de futuro

Atualmente, o Profnit tem em torno de 300 discentes e 130 docentes em todo o país, entretanto, Tonholo anseia por muito mais: “Ter escala é fundamental nesse momento. Nós queremos ter 500, 600 alunos entrando. Por isso, estamos fazendo um processo de expansão para novos pontos focais e, provavelmente, em setembro ou outubro desse ano, lançaremos o edital para a seleção de 2018”. Segundo ele, a previsão é que haja ingresso anual, com início sempre em março. A única exceção foi a primeira turma, que começou no meio do ano, devido à conclusão do processo de criação do curso.

Com relação ao número de vagas, o professor explicou que, além da autorização da Capes, depende também da capacidade de orientação dos trabalhos de conclusão: “Nós ainda estamos sem orientandos do Profnit, já que ainda não chegamos nessa fase. Mas até o próximo ano, com as duas turmas que estão em andamento, cada docente terá, em média, dois alunos para acompanhar. Então, é provável que hajam menos vagas aqui, algo em torno de 24”, prevê o pró-reitor da pós-graduação.

Ele ainda comemorou a chegada do curso como “a melhor coisa que aconteceu na Universidade nos últimos tempos. São pessoas engajadas que estão mostrando uma outra face da Ufal que Alagoas não estava acostumada a ver. É diferente, uma coisa nova e é do bem”, afirmou o professor. Torcida essa reforçada também por Alcilene. “O Profnit veio para agregar valor ao Estado. Daqui a um tempo, teremos profissionais qualificados e capacitados atuando nessa área de Propriedade Intelectual, que poucos conhecem, mas é um aspecto importante para inovação. Uma coisa é certa: O curso não é fácil, mas vale muito a pena”, vibrou a mestranda.

Fonte: Universidade Federal de Alagoas