Que tal investir em NFT?

O comércio de fotos, memes, música e outras obras de arte virtuais explodiu com a popularização do NFT, certificado digital que criou um mercado milionário de compra e venda de arquivos digitais pagos com criptomoedas

Imagine que você possui um quadro original de Picasso na parede de sua casa. Se decidir vendê-lo, receberá milhões de dólares para transferir o quadro, fisicamente, para as mãos do comprador. Agora pense que você tem um quadro original, mas que ele está na parede em meio a dezenas de réplicas. Mesmo assim, a obra verdadeira mantém o seu valor, enquanto as cópias poderão ser adquiridas por uma pequena fração desse preço. O mundo virtual precisavam de um sistema para enfrentar esse desafio: como garantir que uma obra digital é a “original” criada pelo artista, quando ela pode ser copiada milhares de vezes? Foi pensando nisso que foi criado o “NFT” (Non-Fungible Token), sigla em inglês que significa “token não-fungível”, ou seja, um código único, que não pode ser substituído.

A garantia de que é possível comprar uma obra digital “verdadeira” rapidamente tornou esse mercado supervalorizado, ainda mais porque sua comercialização é feita por meio de moedas tradicionais, como dólares e reais, mas também com criptomoedas como o Ethereum. Sem regulação por nenhum banco central, esse dinheiro virtual é garantido pelas “blockchains”, redes de computadores que evitam fraudes e equilibram a cotação dessas moedas.

Qualquer um, portanto, pode comprar um NFT. Ele pode ser um meme famoso, uma arte digital ou até mesmo um post de rede social. Outras pessoas podem até salvar os mesmos arquivos em seus computadores, mas só o comprador do NFT terá a obra “verdadeira”. Parece estranho, mas no fundo é o mesmo conceito por trás do mercado de arte há séculos. Como no exemplo, acima, do Picasso: o que dá valor à obra não é apenas o quadro em sim, mas a assinatura do pintor, a garantia de que ele é seu autor — mesmo que uma réplica seja exatamente igual. O NFT é o contrato de garantia entre o produtor da obra digital e o comprador.

Assim como aconteceu com o e-commerce, os NFTs começam a ganhar vitrines voltadas para produtores e colecionadores. Criador da Phonogram.me, primeira plataforma de compra e venda de NFTs no Brasil, o empresário Lucas Mayer sabe o potencial do formato. Enquanto outras empresas focam mais nas artes visuais, Mayer decidiu voltar-se para a música. Entre os NFTs oferecidos em seu site está uma música inédita de Elza Soares. A regravação de “Drão”, composta por Gilberto Gil e gravada pela cantora em 1971, foi descoberta por um produtor e colocada à venda. A música poderá ser ouvida por todos, mas quem comprar o NFT será o “dono” da versão original. Isso não é apenas capricho de colecionador, mas um investimento: ele poderá revender esse NFT quando quiser. “É um negócio bom tanto para a Elza, que ganhará parte desse valor, quanto para o futuro proprietário, que terá um bem valioso para negociar no futuro”, diz Mayer.

Os valores de NFT negociados chamam a atenção. Um “meme — aquelas figurinhas animadas que fazem tanto sucesso nas redes sociais — de um cachorro bateu recordes. A singela imagem de “Kabosu”, cão da raça Shiba Inu, tornou-se o meme mais caro já vendido: US$ 4 milhões, cerca de R$ 21 milhões. “Como é a fotografia original, ela pode se valorizar e ser revendida”, explica Mayer. O mesmo aconteceu com a imagem da garota Zöe Roth em frente a uma casa em chamas, que viralizou na internet: foi vendida por US$ 500 mil (ou R$ 2,7 milhões). A moda chegou ao Brasil: a atriz Vera Fischer colocou à venda uma foto rara sua em NFT com o lance mínimo de R$ 447 mil.

Qualquer um pode ganhar dinheiro com a novidade? Depende. Uma foto pode virar NFT por cerca de U$ 50 (ou R$ 270), mas quem garante que haverá mercado para ela? “O NFT existe desde 2017 e veio para ficar, mas só agora o brasileiro começou a prestar a atenção”, diz Mayer. O formato já foi adotado até por grandes casas de leilão, como a Christie’s. Em relação ao valor de cada obra, isso seguirá o mesmo conceito do mercado de arte: o preço será determinado pelo valor artístico de quem vende — e pelo olho de quem compra.


Fonte: Istoé | Clipping: LDSOFT
Foto: Istoé