UFMG recebe prêmio por sonda que ‘suga’ secreção em pulmões de pacientes com Covid-19 e outras doenças respiratórias

Sonda criada pelos pesquisadores da universidade mineira é mais eficaz para sucção que as tradicionais e diminui riscos de contaminação entre profissionais da saúde.

Uma sonda desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para sugar secreções do pulmão em casos graves de doenças respiratórias, como a pneumonia e a Covid-19, foi vencedora do prêmio patente do ano concedido pela Associação Brasileira da Propriedade Intelectual (ABPI), que neste ano reconheceu inovações no combate à Covid-19.

A tecnologia, intitulada “Método e sonda de aspiração endobronquial de secreções”, foi desenvolvida pelo Laboratório de Bioengenharia (Labbio), do Departamento de Engenharia Mecânica da UFMG. A ideia partiu de uma demanda de especialistas em doenças respiratórias, que relatam dificuldade para fazer aspiração de secreções pulmonares.

Segundo um dos inventores da tecnologia, o engenheiro mecânico Claysson Vimiero, as sondas tradicionais não permitem que os profissionais tenham precisão do quanto precisam introduzir ou se estão alcançando o pulmão correto. Isso acabava fazendo com que o profissional tivesse que fazer o trabalho de sucção várias vezes ao dia.

“A sonda tem um formato em V. E é esta bifurcação que faz com que a ponta do tubo pare no lugar certinho para aspirar. A eficiência é muito maior. Torna-se um procedimento mais rápido, menos invasivo, garantindo aspiração eficiente”, explicou.

Outra vantagem do equipamento é a redução da contaminação de profissionais de saúde que estão na linha de frente dos cuidados com o paciente.

“O que o profissional faz hoje é: introduz a sonda e retira uma quantidade de secreção. Sem saber qual pulmão alcançou, coloca a sonda de novo e tem que repetir este procedimento várias vezes, para ter certeza de que foi sugado. A nova sonda reduz a quantidade de vezes que vai executar e a quantidade de aerossóis no ar, diminuindo as chances de contaminação de quem cuida do paciente”, disse.

Demora para patente e pouco investimento

A patente da nova sonda foi depositada em 2009, mas reconhecida somente no final do ano passado.

“Isso é um problema crítico que temos no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), que faz a gestão das patentes. A grande maioria das patentes demora tempo muito grande. Em países mais desenvolvidos chega na ordem de três, no máximo quatro anos”, comentou.

Apesar das conquistas, tanto da concessão da patente, quanto da premiação, a sonda ainda não é comercializada, nem utilizada em nenhum hospital.

“O que a gente vê é que a gente tem dificuldade muito grande de pegar o que é desenvolvido na universidade e transformar em produto. Não se investe em pesquisa e em tecnologia no Brasil. Às vezes um produto com qualidade muito boa fica sem ser utilizado. O que a gente espera com este prêmio é dar visibilidade para que alguma empresa se interesse para começarmos a comercializar”, afirmou.

Sobre a crítica do pesquisador, o INPI disse que em junho de 2020 o tempo médio de decisão de exame técnico de um pedido de patente estava em 5,7 anos, contados a partir do pedido do exame (etapa do processo a ser obrigatoriamente cumprida pelo requerente, segundo a lei).

“O INPI tem obtido grande avanço na redução do estoque de pedidos pendentes de decisão com a implantação, em agosto de 2019, do Plano de Combate ao Backlog de Patentes. Com isso, o tempo de decisão dos pedidos também deverá ser reduzido. De acordo com dados de 20 de outubro, já foram retirados da fila 64,9 mil pedidos”, afirmou o instituto.

“Outra iniciativa do INPI voltada à redução do tempo de decisão de patentes é o trâmite prioritário, que está com o tempo médio de 13 meses. Esse exame mais rápido pode ser pedido por startups, micro e pequenas empresas, instituições de ensino e pesquisa, tecnologias verdes, entre outras modalidades, inclusive tecnologias voltadas para a Covid-19”, finalizou o comunicado do INPI.


Fonte: G1 | Clipping: LDSOFT
Foto: UFMG