Valorizar conhecimento com sucesso: Patente milionária conta uma história de sucesso que nasce do conhecimento

Valorizar o conhecimento é uma das mais-valias estratégicas de qualquer economia. Portugal já está no mapa pelas suas competências na área da Investigação & Desenvolvimento e está a dar os primeiros passos no desenvolvimento, proteção e valorização da inovação de base científica e tecnológica.

Tecnologia inovadora totalmente concebida e desenvolvida em Portugal foi vendida por cinco milhões de euros à Dyesol, uma empresa australiana.

Apresentamos um caso de sucesso em que a colaboração entre uma universidade, empresas e uma agência pública se transformou numa patente vendida por cinco milhões de euros a uma empresa australiana.

Quem olhar para a foto que acompanha este artigo não imagina que, por entre os fios e o metal, se “esconde” uma tecnologia inovadora totalmente concebida e desenvolvida em Portugal. Trata-se de uma tecnologia fotovoltaica que permite a conversão direta da luz solar em energia elétrica de forma renovável e sustentável.

Na base desta tecnologia estão três projetos distintos – Solarsel, WindDSC e BI-DSC – todos liderados por Adélio Mendes, professor catedrático da FEUP. Em colaboração com a Efacec, e com a contribuição da Agência Nacional de Inovação (ANI), CUF-QI, CIN e EDP, avançou para o desenvolvimento de uma tecnologia que contou, no Solarsel e no WindDSC, com um apoio público, no âmbito do COMPETE, de 1,2 M€ (*). O BI-DSC (Building Integrated Dye Sensitized Solar Cells) foi apoiado pelo European Research Council com uma Advanced Research Grant no valor de quase 2 M€. Teve inicio em março de 2012 e a duração de 5 anos.Para além da sua natureza disruptiva, esta tecnologia ilustra um exemplo bem-sucedido da valorização económica de inovação colaborativa com base em conhecimento e uma abordagem inovadora às patentes “Made In Portugal”. Desenvolvida pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), em colaboração com a Efacec, despertou a atenção da empresa australiana DyeSol, que comprou a patente por cinco milhões de euros

“Foi a aposta concertada da colaboração entre a UPorto, a empresa Efacec e a ANI, através dos projetos em co-promoção SolarSel e WinDSC e do projeto BI-DSC, financiado pela Comissão Europeia, que permitiu chegar à tecnologia de selagem a vidro assistida a laser de baixa e de muito baixa temperatura, entretanto adquirida pela empresa DyeSol. Esta tecnologia é única e tem uma grande utilidade industrial estando presentemente a permitir atrair empresas para Portugal”, considera Adélio Mendes.

Este projeto revela também uma nova abordagem às patentes no nosso país. Mais do que proteger, interessa valorizar o conhecimento desenvolvido para a sua criação. Isso exige estratégias de gestão adequadas para gerar retorno a partir do resultado da Investigação & Desenvolvimento, do conhecimento e das ideias, quer as que saem da empresa quer as que a empresa adquire externamente.

As instituições públicas também funcionam como estímulo a esta valorização. No caso da tecnologia fotovoltaica referida neste artigo, Adélio Mendes afirma que “desde a investigação mais fundamental que suportou o desenvolvimento da tecnologia, tarefas essencialmente realizadas pela UPorto, ao apoio técnico e na definição da estratégia bem como ao financiamento do espaço laboratorial e das patentes (uma das patentes esteve dormente durante mais de 7 anos) pela Efacec, e ao apoio financeiro e às visitas técnicas da ANI, o projeto obteve êxito pela concentração orquestrada de esforços destas três entidades”.

Num contexto mais alargado da propriedade intelectual, o atual programa-quadro da União Europeia, Horizonte 2020, promete continuar a dar relevo ao impacto económico e social dos projetos. Têm a palavra as universidades, as empresas e os poderes públicos. Eles terão um papel-chave na transformação dos resultados de uma investigação em produtos e serviços para o mercado e a sociedade. No âmbito dos fundos estruturais em Portugal, o programa Portugal 2020 inclui mesmo um aviso sobre Propriedade Intelectual, que pretende reforçar a transferência de conhecimento científico e tecnológico para o setor empresarial e a sua valorização, promovendo uma maior eficácia do Sistema de Investigação & Inovação na disseminação dos seus resultados por via da propriedade intelectual.

(*) Os projetos Solarsel e WindDSC foram apoiados pelo COMPETE – Programa Operacional Fatores de Competitividade no âmbito do Sistema de Incentivos à Investigação e Desenvolvimento Tecnológico (SI I&DT), com um incentivo do FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.

Fonte: i9 magazine