Centrais fotovoltaicas flutuantes põem portugueses na calha para prémio de patente

Os engenheiros portugueses Nuno Correia, Carla Gomes e a sua equipa no Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial (INEGI), no Porto, estão entre os 13 finalistas no prémio de inovação do Instituto Europeu de Patentes (IEP). Criaram centrais fotovoltaicas flutuantes que seguem o sol e estão na calha para um dos prémios de inovação mais prestigiados da Europa, cujos vencedores serão conhecidos a 21 de junho.

Numa “ilha” circular com cerca de 38 metros de diâmetro, o sistema PROTEVS funciona de forma autónoma, utilizando um controlo próprio. Cada unidade contém 180 painéis fotovoltaicos que rodam lentamente em torno de um ponto central com a ajuda de motores elétricos. Ao produzir sombras e atuar como um corta-vento, a plataforma baixa a temperatura da água e reduz a evaporação em 60%.

“A inspiração para criar o PROTEVS partiu de uma empresa que nos contactou, a SolarisFloat sediada no Porto. Eles queriam implementar o conceito dos painéis solares flutuantes”, explica Nuno Correia, atual diretor da unidade de Materiais e Estruturas Compósitas no INEGI.

O sistema roda numa direção durante o dia, seguindo o sol, e na direção oposta durante a noite para regressar à sua posição inicial. Os próprios painéis podem ser inclinados conforme a posição do sol e o sistema foi concebido para ser usado em águas relativamente calmas, tais como lagos e albufeiras.

Os vencedores da edição de 2022 do Prémio Europeu do Inventor do IEP serão anunciados numa cerimónia virtual a 21 de junho. “É um prémio interessante, que foi escolhido pelo gabinete europeu de patentes, o que em si é algo de curioso”, explica Nuno Correia.

Mercado europeu

Em conjunto com Carla Gomes, gestora de projeto na CorPower Ocean (uma empresa líder no desenvolvimento de tecnologia de aproveitamento de energia das ondas), Nuno Correia concebeu o PROTEVS para ser duradouro e resistente a uma grande variedade de condições ambientais, tais como água salgada e ondas até um metro de altura. A sua construção será “100% feita a partir de materiais reciclados, também pode ser reciclado após a utilização”.

“Tem a mesma duração de outros equipamentos industriais e, como tal, no fim da sua vida útil tem de ser dado o respetivo encaminhamento. É sempre crucial, em qualquer projeto, imaginar o que fazemos aos equipamentos no fim de vida, de forma a ser reintegrado no ciclo produtivo”, afirma Nuno Correia.

Apesar de Nuno Correia, Carla Gomes e a sua equipa serem nomeados na patente, esta é propriedade da SolarisFloat, que irá comercializar o produto. Nuno Correia admite que a patente foi fundamental para o arranque do desenvolvimento do sistema. “Nesta área, creio que ninguém teria investido o dinheiro que eles investiram sem uma patente”, afirma.

O maior mercado do PROTEVS vai ser a Europa. “Na Europa, em concreto, temos a Holanda, que manifestou interesse no PROTEVS por causa das suas lagoas. Eles têm, inclusive, um protótipo do PROTEVS lá, para testes”, conta. Nuno Correia também afirma que o projeto tem grande interesse para Portugal, podendo complementar a energia hidráulica produzida em barragens. Fora da Europa, a SolarisFloat está a estabelecer negócios com parceiros na Índia e “potencialmente” na América do Sul.

Além deste projeto, Nuno Correia afirma que o INEGI tem “mais de uma centena de projetos ativos”, divididos entre os seus 270 colaboradores. “Neste momento temos 120 projetos ativos com a indústria. Mas a nossa componente principal, e com cada entidade que colaboramos anualmente, é construir projetos que sejam úteis”, afirma Nuno Correia.

“Mostra a nossa qualidade”

O projeto PROTEVS é um dos 13 finalistas no prémio de inovação do Instituto Europeu de Patentes (IEP), estando também entre os quatro finalistas da categoria “PMEs”, que reconhece inventores excecionais em pequenas empresas com menos de 250 empregados e um volume de negócios anual abaixo dos 50 milhões de euros. Além do projeto português, está uma parceria suíça e francesa, um projeto da Espanha e da Indonésia e um projeto alemão em competição nesta categoria.

O PROTEVS não é, no entanto, o primeiro projeto português a ser selecionado pelo IEP para receber este prémio. Vários projetos de investigadores portugueses entraram nesta competição sem nunca terem ganho, incluindo a atual ministra do Ensino Superior Elvira Fortunato. Como um dos líderes do projeto, Nuno Correia afirma que a possibilidade do PROTEVS ser nomeado vencedor “é uma longa aposta” e imagina que “estão em concurso grandes projetos”.

“Eu vejo isto pelo lado positivo. Estarmos no top 3 mostra a qualidade do que é desenvolvido em Portugal. Este projeto vem de três instituições portuguesas e está a ser desenvolvido desde 2016”, afirma. Cabe agora ao público europeu votar nos respetivos projetos, com base em apresentações preparadas pelo Instituto Europeu de Patentes.


Fonte e Foto: JNDireto