Marca britânica com nome africano acende debate sobre apropriação cultural

Yorubá é um dos principais grupos étnicos da Nigéria e representa cerca de 21% da população, de acordo com o World Atlas

A batalha pela posse do nome de um grupo étnico africano está estimulando o debate sobre a apropriação cultural.

Yorubá é um dos principais grupos étnicos da Nigéria e representa cerca de 21% da população, de acordo com o World Atlas. As pessoas que se identificam com o grupo vivem principalmente no oeste do país e falam a língua yorubá. Também há yorubás no vizinho Benin, Togo e até no Brasil.

Mas a palavra Yorubá foi registrada e se tornou propriedade por quase seis anos de uma empresa varejista britânica de roupas, a Timbuktu Global. A marca recentemente tentou impedir que a cidadã britânica-nigeriana Gbemisola Isimi – que é membro do grupo étnico – usasse a palavra para nomear seu programa cultural e linguístico de “Estrelas Yorubá.”

Um tuíte de Isimi gerou uma onda de protestos online e uma campanha de mídia social chamada #Yorubaisnotforsale.

“É realmente estranho que uma empresa possa registrar a palavra ‘yorubá’ como sua marca, uma língua e tribo de milhões de pessoas”, ela disse. “Hoje é yorubá, amanhã pode ser igbo ou mesmo a palavra África.”

A empresa disse esta semana que iniciou o processo de renúncia da marca. A disputa foi particularmente delicada na Nigéria, que foi governada por décadas pela Grã-Bretanha antes de se tornar independente em 1960 e onde as autoridades estão buscando a devolução de artefatos que foram saqueados naquela época.

Did you know that @TimbuktuGlobal a retail company owned by two WHITE-BRITISH people from Lancashire who have no affiliation with Yoruba language or tribe have trademarked the word ‘YORUBA’ and are opposing anyone else from using it? A THREAD: pic.twitter.com/qzSOoJ7Sng

— CultureTree (@Culturetreetv) May 23, 2021

Timbuktu registrou a marca “Yorubá” em 2016, de acordo com o site do Escritório de Propriedade Intelectual do Reino Unido. A companhia havia se oferecido para vender os direitos da marca para a Culture Tree, a empresa de propriedade da Isimi que ensina a língua yorubá, quando ela reclamou pela primeira vez. Mas Isimi recusou a proposta.

O Escritório de Propriedade Intelectual do Reino Unido afirma que suas decisões são baseadas nas leis existentes e que o público pode contestar a validade de uma marca comercial. “Ao examinar marcas registradas, nosso papel é interpretar as leis existentes e ser o mais transparente possível em nossos processos de tomada de decisão, ao mesmo tempo em que refletimos a sociedade ao nosso redor.”

Trade marks and intellectual property touch every part of modern life, and we know that our decisions are important not just for those submitting the application, but for the wider public and communities they affect. (1)

— IPO.GOV.UK (@The_IPO) May 24, 2021


Fonte: Exame | Clipping: LDSOFT
Foto: Exame