Novos rumos de privacidade no metaverso e no uso do blockchain

Sem regras definidas, segurança dos dados ainda não é foco principal do ambiente digital imersivo.

Enquanto as discussões sobre privacidade e segurança de dados continuam em alta no mundo todo, suscitando inclusive novas regulações sobre o tema – no Brasil, o exemplo é a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) – um certo “local” parece se manter à margem dos debates: o metaverso.

Com o desenvolvimento de tecnologias como realidade virtual aumentada, inteligência artificial e blockchain, não só a Meta, o novo Facebook ou a big tech de Mark Zuckerberg, mas diversas outras empresas têm investido na criação de seus ambientes digitais imersivos. Mas a privacidade no metaverso chega a ser uma preocupação neste cenário?

“Eles devem se preocupar mais com este assunto? Sim. Estão fazendo isso? Em partes”, fala o especialista em tecnologia que faz o “amigo nerdzinho” no quadro Tech News da empresa de conteúdo WorkStars, Mario Aguilar.

Ele explica que a ideia inicial dos desenvolvedores era primeiro povoar o ambiente, para depois começar a tratar de regras e normas da sociedade digital. Mas, com números aquém do esperado de usuários até agora, acredita que a estratégia deva ser repensada.

A questão da privacidade no metaverso

Se já é difícil proteger e mensurar a quantidade de dados formados todos os dias pelos usuários mundo afora na internet, essa questão se multiplica quando falamos do metaverso. Afinal, se consolidado e expandido, ele pode, sim, transformar a maneira como consumimos e interagimos uns com os outros, mas às custas de coletar muito mais informações do que outros tipos de plataformas.

Tudo porque dados pessoais, tanto os fornecidos pelos próprios usuários quanto outros indiretos ou sensíveis, estão na base do correto funcionamento dos dispositivos vinculados a ele (como os óculos de realidade virtual) e da melhora na experiência virtual por meio de avatares. São dados oriundos, por exemplo, de reconhecimento territorial e ambiental ou até sobre características individuais das pessoas.

Uma vez que é um ambiente sem muitas regras definidas, algumas perguntas ainda ficam sem respostas: como os dados são coletados e armazenados? A finalidade da coleta é exclusivamente para melhoria na usabilidade? Qual é o ciclo de vida destas informações? O usuário conseguirá ter escolha sobre o que compartilhar ou não? Haverá o direito de esquecimento virtual?

“Vai parecer catastrófico o que vou dizer, mas o que podemos esperar é que seus dados serão vazados. Em algum momento nos próximos anos, em alguma rede social, dentro ou fora do metaverso. A engenharia de segurança evolui tremendamente, mas os hackers também. Dificilmente teremos paz no ambiente digital”, alerta Mario Aguilar.

Blockchain e outras garantias de segurança dos dados no metaverso

Ainda que o cenário pareça incerto, iniciativas de proteção e regulação estão sendo tomadas. O especialista em tecnologia, Mario Aguilar, afirma que cada metaverso está trabalhando de maneira distinta em relação às políticas de proteção do usuário, mas que alguns pontos em comum podem ser vistos, como o uso de blockchain.

Em relação à segurança das transações financeiras, por exemplo, ele explica que o que está sendo exigido pelos desenvolvedores é justamente poder rastrear as movimentações de criptoativos e acompanhar as transferências de carteiras. O registro delas no blockchain não chega a inviabilizar golpes, mas ameniza a incidência.

“Diferenças significativas realmente serão sentidas em mais um ano de esforços conjuntos de melhorias nas blockchains. Mas sempre lembro que os hackers também vão se especializando cada vez mais em realizar dezenas de transferências sequenciais, dificultando seguir a trilha do criptoativo”, fala.

Já em relação a perfis falsos, que já existem em milhares nas redes sociais, a tendência é que se alastrem para o metaverso também. Ainda mais pensando na realidade virtual e no uso dos avatares, que podem ter forma “humana”, mas não necessariamente fidedigna com seu usuário físico, ou ainda de animal ou objeto. Mais uma vez, há poucas regras em jogo.

“Nunca saberemos quem está do outro lado de um avatar. Processos de verificação ainda estão sendo pensados e elaborados para uma implantação futura, por isso teremos soluções melhores somente a partir de 2025”, estima Mario Aguilar.

Por fim, ainda existe a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) no Brasil e legislações similares em outros países. Embora seja recente e de certa forma ainda esteja em fase de adaptação, o metaverso pode se enquadrar na lei ao solicitar dados pessoais dos usuários para cadastro.

Dessa maneira, as plataformas que desenvolverem metaversos poderiam ser obrigadas a adotar medidas em relação a tratamento e armazenamento de dados, prevenção do compartilhamento indevido, boas políticas de privacidade e termos de permissão de uso que deixem claro quais dados serão usados e por quais motivos.

Usuários do metaverso e cibersegurança

Diante de um mundo virtual imersivo ainda sem regramento específico e pouca clareza em relação à privacidade e segurança dos dados, com as empresas ainda dando os primeiros passos na discussão e elaboração de políticas sobre o tema, os usuários têm algum poder de ação para se protegerem?

O especialista em tecnologia, Mario Aguilar, recomenda alguns cuidados de cibersegurança ao adentrar no metaverso, seja ele qual for, que podem ajudar a diminuir a sensação de vulnerabilidade:

– Procurar aplicativos seguros e já listados pela imprensa especializada.

– Não compartilhar dados pessoais com “aberturas de carteiras digitais” não reconhecidas pelo mercado.

– Consultar nos buscadores os nomes das empresas e plataformas antes de entrar com seus dados.

– Não se iludir com promessas de ganhos milagrosos nos ambientes criptos, inclusive não arriscando alocar mais de 10% de seu patrimônio em criptoativos neste momento.

– Navegar com responsabilidade, da mesma forma que já faz nas redes sociais de preferência (cuidado com senhas e compartilhamento de dados, leitura dos termos de uso, etc.).

– Manter o respeito e a educação com seus interlocutores dentro do metaverso.

– Não “abrir o coração” – e seus dados pessoais sensíveis – para um avatar, pois neste momento ainda é arriscado construir relações de plena confiança em ambientes virtuais imersivos.

Fonte: Consumidor moderno Imagem: BL Consultoria Digital