Bolsista cria aplicação de patente e é premiada no exterior.

A bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) Izabelle de Mello Gindri chegou ao fim do doutorado pleno por meio do Programa Ciência sem Fronteiras com uma experiência vitoriosa. Ao longo de três anos na University of Texas at Dallas (UTD), publicou quatro artigos como autora principal em revistas com fatores de impacto de relevância (acima de 3) e é autora de uma aplicação de patente (WO2016004366A8) que envolve o projeto de pesquisa.

O projeto de doutorado que desenvolveu no exterior visou o desenvolvimento de compostos orgânicos, denominados líquidos iônicos, com multifuncionalidades para proteger a superfície de implantes dentários e melhorar o desempenho desses dispositivos. “Atualmente, estima-se que 5-10% dos implantes dentários falham e entre os principais agentes causadores destacam-se o biofilme bacteriano, corrosão da superfície metálica e lesão durante a inserção, devido ao atrito da superfície metálica e o tecido ósseo. Estes agentes têm sido associados a processos inflamatórios que podem acarretar a perda óssea e consequentemente a falha dos implantes”, explica a pesquisadora.

De acordo com Izabelle, os compostos propostos no projeto foram racionalizados para possuir multifuncionalidades. “Assim, pode-se inibir o crescimento bacteriano ao redor do implante, permitir a migração celular e óssea e também proteger a superfície contra corrosão, como também do atrito durante a inserção devido sua propriedade lubrificante.”

A experiência no exterior foi fundamental para o desenvolvimento do trabalho, argumenta a bolsista. “A minha orientadora nos Estados Unidos, professora Danieli Rodrigues, me proporcionou o treinamento em várias técnicas e equipamentos de alta tecnologia. Além disso, tive o incentivo dela para atender conferências onde tive oportunidade de entrar em contato com os melhores profissionais da área de biomateriais e também de conhecer a pesquisa de outros grupos”.

Izabelle realizou trabalhos em parceria com outros colegas, com profissionais de indústrias e com o órgão regulador de qualidade de biomateriais nos Estados Unidos, o FDA (do inglês Food and Drug Administration). “Todas essas experiências foram de muita valia, pois contribuíram significativamente na minha formação multidisciplinar. Em termos de produtividade, a experiência no exterior teve uma grande contribuição para trabalhar em publicações de alto impacto”, enumera.

 

Devido à inovação da tecnologia desenvolvida no projeto de doutorado, bem como a necessidade de novos tratamentos de superfície para evitar a falha de implantes de titânio in vivo, os compostos propostos na tese e a aplicação da tecnologia de líquidos iônicos como tratamento de superfície de biomateriais deram origem a uma aplicação de patente. “Este processo foi muito interessante, pois aprendi sobre as questões burocráticas que viabilizam a proteção da propriedade intelectual. A grande atenção à proteção da propriedade intelectual reflete uma politica interessante do meio acadêmico nos Estados Unidos, onde a pesquisa é, em grande parte, realizada de modo a suprir as necessidades da indústria, o que leva a produção de conhecimento que frequentemente é convertido em tecnologia”, contextualiza.

Premiação
Além das publicações, em 2015 Izabelle recebeu o prêmio “Jonsson Family Graduate Fellowship in Bioengineering” por destacado desempenho acadêmico na UTD. “Um aspecto muito importante no meio acadêmico dos Estados Unidos é que alunos que tem um bom desempenho dentro da universidade são reconhecidos e valorizados. Isto faz com que o meio seja competitivo, o que resulta em um maior engajamento dos estudantes nas atividades acadêmicas e maior produtividade”.

Incluso ao Prêmio estava a redução das taxas escolares para valores similares aos estudantes naturais do Texas, mais de metade do valor que a Capes vinha pagando desde então. “Desde que cheguei na University of Texas at Dallas me preocupei em estar no mesmo nível dos alunos americanos. Para isso me dediquei nas disciplinas que cursei e busquei oportunidades em projetos paralelos ao meu projeto de doutorado, onde tive a possibilidade de trabalhar com outros alunos. Como recompensa desse trabalho, em agosto de 2015 fui premiada com a bolsa Jonsson Family Bioengineering Fellowship, que reconhece alunos de pós-graduação com destacado desempenho acadêmico”.

O alto desempenho científico da bolsista tem origem na formação qualificada durante a formação no Brasil, Izabelle acredita. “Tive uma excelente formação durante o mestrado no Brasil, que me proporcionou a base científica para desenvolver o meu projeto de doutorado. Orientada pela professora Clarissa Frizzo, professor Marcos Martins e professor Marcos Villeti, fui introduzida no treinamento multidisciplinar, o que vejo como aspecto essencial da minha formação. Portanto, acredito que o sucesso na experiência no exterior tenha sido resultado da orientação que recebi no país e no exterior”, conclui.

Retorno e inovação
A bolsista ressalta que realizar estudos em outro país tem dois aspectos fundamentais: o profissional e o pessoal. “Profissionalmente, a oportunidade de estudar em uma Universidade no exterior possibilita conhecer o sistema de ensino do país estrangeiro, ter contato com profissionais de vários lugares do mundo e também ter acesso à tecnologia de ponta disponível em países como os Estados Unidos. Pessoalmente, vejo como fundamental o contato com culturas diferentes para podermos avaliar quais são os aspectos culturais que contribuem positivamente em um país. Devido aos Estados Unidos receber pessoas de muitos países, tive a possibilidade de conviver com estudantes de diversas nacionalidades, e aprender um pouco sobre a cultura deles”, afirma.

Com a conclusão do doutorado, Izabelle acredita que o projeto desenvolvido tem potencial de aplicação na indústria brasileira. “Hoje o Brasil possui um amplo número de indústrias de próteses dentárias e ortopédicas. Embora esses materiais tenham boa performance in vivo, existem aspectos que podem ser melhorados e a pesquisa que desenvolvi no exterior pode vir a contribuir ao melhor desempenho desses dispositivos em um futuro próximo.”

Atualmente Izabelle está trabalhando no Laboratório de Engenharia Biomecânica (LEBm), que é referência em controle de qualidade de biomateriais no país. “O treinamento que recebi no exterior abriu portas para que eu possa contribuir e continuar a minha formação acadêmica no Brasil. Estou trabalhando em projetos que buscam compreender os mecanismos de falha de implantes ortopédicos. Desta forma, poderemos utilizar o conhecimento gerado para propor melhoramento nos materiais”, prevê.

Fonte: Fundação Capes