Personagens trocam nomes por exigência das multinacionais do entretenimento

A simples menção de Bugs Bunny provavelmente não criará nenhum efeito nostálgico no leitor. E por mais fã de quadrinhos que seja, é possível que ninguém vincule o nome Fethry Duck a um personagem famoso. Quanto mais Sylvester e Yogi Bear.

Mas se continuarem a alterar para o inglês os nomes das atrações animadas, já é bom ir se acostumando a enrolar a língua para se referir aos protagonistas de nossa infância – como Pernalonga, Peninha, Frajola e Zé Colmeia, do parágrafo anterior.

“Até hoje é um pouco complicado pensar em Tinker Bell e coisas do tipo”, admite o desenhista Júlio Ferreira, autor dos traços de Batman e Superman. “Tenho sobrinhos de 10, 12 anos que não sabem o que é Sininho ou Guerra nas Estrelas”.

Hoje o nome Sininho, a fada que ajuda Peter Pan na Terra do Nunca, não aparece em nenhum produto da Disney. E os mais novos possivelmente farão cara de espanto quando alguém se apresentar como fã de “Guerra nas Estrelas”, no lugar de “Star Wars”.

“O próprio Super-Homem, assim publicado durante seis décadas, teve seu nome mudado para Superman há cerca de 10 anos”, lembra Júlio. Ele explica esse “rebatismo” como uma maneira de as multinacionais do entretenimento tratarem suas propriedades intelectuais à rédea mais curta.

Globalização e crise
“Antes a renda de filmes, livros, HQs e produtos de licenciamento advinda do exterior não era nem considerada na contabilidade principal. Isso mudou radicalmente nos últimos anos. Um pouco pela globalização, claro”, destaca Júlio, citando ainda a crise internacional.

Fatores que explicam um controle mais próximo dos nomes dos personagens (que, de acordo com a legislação de cada país, pode acabar sendo apropriado por outras partes) e a garantia do seu significado, além dos direitos a eles relacionados.

O desenhista assinala que, no século passado, os nomes ficavam ao bel prazer dos tradutores. “As editoras, distribuidoras e franqueados nacionais escolhiam os nomes que melhor lhes conviessem comercialmente, o que gerou algumas pérolas, como chamar Wolverine de Lobão”, diverte-se.

Júlio até não se incomoda tanto com os nomes. Mas em relação aos uniformes, diz ter saudade de ver, por exemplo, o Superman com cueca por cima da calça. “Acho os atuais (uniformes) complicados de se desenhar. Antes qualquer um podia decorar o uniforme do seu personagem favorito”, compara.

Fonte: Hoje em dia