Bancos iniciam uso de blockchain no Brasil

O sistema de registro de informações digitais blockchain está começando a ser usado no país nas negociações com contratos de derivativos de balcão e em breve poderá agilizar transferências bancárias internacionais dentro de um mesmo banco. A tecnologia funciona como um “livro de caixa criptografado”, em que tudo que é registrado nela é imutável e enviado da mesma forma e no mesmo momento para todas as partes envolvidas, o que evita fraudes e dá credibilidade àquela informação.
O banco Itaú colocou em operação no início deste mês uma ferramenta voltada para o controle das transações de derivativos baseada na tecnologia blockchain. Essa aplicação permite o armazenamento das informações da negociação em um ambiente virtual seguro e de forma permanente.
A ideia de usar a ferramenta para esses ativos, segundo os executivos do banco, vem do fato de o preço dos derivativos não serem acompanhado por um regulador e não poderem ser consultados em uma clearing. Por isso, o valor que as partes transacionam é decidido por meio de uma negociação entre elas. Com a ferramenta, essa transação é fechada virtualmente e fica registrada de forma oficial na rede.
“Com a ferramenta, você tem uma discussão da negociação mais organizada e oficialmente registrada por uma tecnologia segura”, afirma Cristiano Cagne, diretor de Operações do banco. Ele explica que a aplicação funciona como um software, que precisa estar instalado nos computadores de todas as partes envolvidas.
Nesse “programa”, é aberta uma janela semelhante a um chat, em que as partes negociam o valor daquele ativo. Quando chegam em um consenso sobre a negociação é gerado um documento virtual com os dados da transação que ficam armazenados no blockchain.
Atualmente, dois parceiros do banco já estão operando através da plataforma e outros três já estão “em vias de fechar o negócio”. Além disso, os executivos afirmam que há outras instituições financeiras conversando.
Sem a ferramenta, toda a negociação é feita por e-mail e armazenada em back-ups dos sistemas do banco. Mas, segundo Cagne, no blockchain tudo é muito mais “confiável”. Esse é o primeiro projeto do banco que usa dados reais. Até então, o Itaú realizava testes com informações fictícias para aplicar a tecnologia para diversas finalidades.
O banco é membro do consórcio R3, um grupo que desde abril de 2016 reúne instituições financeiras de diversos países para estudar as possibilidades de uso dessa tecnologia.
Outra instituição financeira que deve colocar em prática projetos baseados no blockchain ainda neste ano é o banco Santander. A ideia é desenvolver uma aplicação em que correntistas que tenham conta no Santander em outros países consigam enviar dinheiro de uma conta para a outra através da rede.
O banco já tem uma solução semelhante no Reino Unido. Lá, alguns funcionários podem fazer transferências para contas do Santander nos Estados Unidos e outros países via tecnologia blockchain. A vantagem, segundo Richard da Silva, superintendente de tecnologia do banco, é a maior rapidez e transparência na transação.
“Se olharmos um fluxo tradicional, pode levar três, quatro ou cinco dias. Com a plataforma, conseguimos fazer em até um dia. Não é instantâneo, mas a diferença é brutal”, afirma o executivo. Com a blockchain, as informações da transferência são transmitidas no mesmo momento para todas as partes envolvidas, desde as agências, até as áreas em que as transações são avaliadas e autorizadas.
O executivo ainda destaca que a tecnologia torna as transferências mais seguras. “Há uma redução da fraude, por conta do lastro, da criptografia associada a essa ferramenta e ao fato de estar distribuída em múltiplas partes”, afirma Silva.
A ideia é que até o fim do primeiro semestre deste ano essa tecnologia esteja disponível para alguns clientes no Brasil que também tenham contas no Santander em outros países.
Este ano também deve marcar o começo do uso da blockchain para otimizar procedimentos no Bradesco. A intenção do banco é oferecer uma solução baseada na tecnologia que tenha como objetivo baratear processos e beneficiar também os clientes finais. Questionado sobre o que seria essa solução, o superintendente de pesquisa e inovação do banco, Fernando Freitas, disse que os processos são sigilosos.
Ele afirmou que o Bradesco já fez uma série de projetos pilotos baseados na tecnologia. Alguns deles em parceria com o R3, consórcio que o banco também é membro. Os outros, segundo o executivo, foram nas áreas de câmbio, produtos e meios de pagamento, mas são ainda “bem embrionários”. O objetivo do banco é usar uma solução real baseada na tecnologia já no segundo semestre deste ano.

Fonte: Valor economico